“Não usar as novelas para passar mensagens importantes ao grande público é um desperdício”. Quem o diz é Maria João Costa, autora de várias novelas produzidas pela Plural, nomeadamente “Amar Demais”, atualmente em exibição na TVI. A autora considera que uma telenovela, pela forma como se prolonga no tempo e pelo alcance que tem, oferece essa possibilidade a quem a escreve. No seu caso particular, encara a oportunidade quase como um dever moral.
Enquanto puxa pela memória para dar exemplos entre os projetos que já assinou, Maria João Costa reconhece que o trabalho autoral reflete muitas das preocupações que tem no dia-a-dia. Em “Amar Demais” há uma personagem que é acérrima defensora da causa ambiental (Diana, interpretada por Matilde Reymão); há outra que sofre de gordofobia (Constança, interpretada por Filipa Pinto) e há ainda outra que é vítima de violência doméstica (a protagonista Ema, interpretada pela atriz Ana Varela). “Não são temas novos, este é até bastante batido. Mas com o confinamento, enquanto escrevia a novela, percebi que os casos aumentaram porque muitas mulheres foram obrigadas a passar mais tempo com os seus agressores. Portanto, pareceu-me relevante recordar que a violência doméstica é um crime público e que qualquer pessoa o pode denunciar”, explica a autora, que recorda que no seu projeto anterior, em que também abordou o problema, a reação dos espetadores nas redes sociais foi bastante positiva.
Outro aspeto que tem em conta no processo de escrita é o potencial que um produto de ficção tem para gerar empatia. Em “Ouro Verde”, Maria João Costa criou uma personagem masculina que passa por um processo de transformação para ser mulher. A dita personagem morreu no final e o público revoltou-se, conta a autora: “não morreu por isso, morreu por causa da trama. Mas as pessoas criaram empatia com ela e com o seu processo”. Se, no fim dia, contribuiu para fazer alguma pedagogia sobre transgénero, Maria João Costa dá a missão por cumprida.
Escreve novelas de atualidade, daí que o presente seja a sua grande fonte de inspiração. Maria João Costa não se esquece que a função da novela é entreter, mas acredita que pode e deve fazer mais. “Já viu a quantas pessoas nós chegamos? Tem de ser divertido, mas também tem de ter um significado”, defende a autora.