Todo artista tem aquele momento que muda para sempre a sua vida, quando, de repente, deixamos de ser “quem é este?” e passamos a ser “sou fã dele”. O meu veio com Ninguém Como Tu. Quando a novela estreou em 2005, tornou-se um fenómeno imediato. Claro que queremos sempre que resulte, mas confesso: não imaginava o tamanho do furacão. O mistério “Quem matou António?” parou Portugal. Literalmente! Pela primeira vez, uma novela portuguesa bateu uma da Globo em audiências. O ritmo acelerado, as elipses, a linguagem da vida real entrelaçada com um texto cáustico e mordaz, virou referência. E a Luísa Albuquerque? A vilã das vilãs. A maior de sempre, dizem. E quem sou eu para contrariar o público… e muito menos a crítica.
Vinte anos depois, o telefone toca: José Eduardo Moniz. “Bora fazer o remake de Ninguém Como Tu?”
Fiquei em silêncio. Segundos que pareceram um intervalo inteiro. Autor adora um suspense. Até que eu disse: “Claro! Bora ressuscitar a Luísinha Albuquerque.”
A partir daí, entrei em ebulição. Acordava com ideias, tomava banho com diálogos, almoçava com dilemas e adormecia com ganchos finais de episódio. Como transformar 185 capítulos em 20 sem trair a essência? Um remake não é um “inspirado em”, é uma versão atualizada da mesma obra. Revi todos os capítulos; foi como abrir um baú antigo e decidir o que guardar e o que deixar ir. Modernizar o enredo, sem o descaracterizar, foi um verdadeiro desafio.
Em 2005 falávamos de aborto, agora em 2025… bom, sem spoilers. O importante é que o mistério continua. E sim, há um novo assassino. Alguém que, à sua maneira, também tirou o António de cena. Façam as vossas apostas. Cada episódio é uma peça de um puzzle que o público vai encaixando, até que, no fim, tudo se revela de forma inesperada.
Foram quatro meses intensos de escrita, um luxo para quem já viveu o ritmo de um capítulo por dia. E claro, uma boa equipa de autores é fundamental. A autoria cumpriu a sua missão preservando o espírito da versão original com a precisão de um relojoeiro e a lucidez de quem sabe que revisitar um clássico é coisa séria. E que prazer voltar a reencontrar as três irmãs, Luísa, Júlia e Dulce, tão diferentes, tão iguais na arte de se destruírem umas às outras.
Despedir-me de personagens a quem tanto devo, uma segunda vez, não foi fácil. Senti melancolia, vazio… e talvez um certo arrepio. Porque, afinal, nunca se sabe: será mesmo uma despedida? Ou só mais um dos meus suspenses preferidos?