“A Vida dos Alimentos” foi a primeira experiência do chef de cozinha Carlos Afonso Duarte na apresentação de um programa de televisão. A experiência constituiu “um desafio e uma aprendizagem” conta-nos, que o fez “ficar ainda mais ligado aos alimentos”. No final da experiência, desafia os consumidores a comprar português numa agricultura que já não se faz com a enxada, mas “no escritório,  através das novas tecnologias, dos smartphones e de satélites”.

MC News: Como foi fazer “A Vida dos Alimentos”?

Carlos Afonso Duarte: Fiquei muito entusiasmado quando me apresentaram o projeto e, obviamente, lisonjeado pelo convite feito pela produção e pela CAP. Senti logo uma boa energia. Nunca tinha feito um programa de televisão, mas consideraram que estava preparado para o fazer. Senti-me na mão de profissionais e aceitei sem receio nenhum.

MC News: Qual foi o maior desafio? Foi dar entoação, falar para as câmaras?

Carlos Afonso Duarte: Foi um desafio e foi uma aprendizagem. Tive a sorte de a Alice [Alves] estar comigo. Achava que era só ler o guião e ela explicou-me que tinha de estudá-lo, explicou-me os pormenores técnicos, como a voz “off”. Fiquei um pouco em pânico, mas acho que correu bem. A equipa foi muito boa e defendeu-me, sobretudo, o realizador, o Bruno Ventura, que me dizia-me: “tu não és apresentador, não se pretende que sejas”. No final, encontrámos  uma fórmula confortável para todos.

MC New: O que  lhe trouxe a vida dos alimentos? Que coisas novas aprendeu?

Carlos Afonso Duarte: Sobretudo que nós, enquanto consumidores, criámos uma série de mitos, como a ideia de que o produto de estufa está cheio de químicos e que nos faz mal. Passou-se a imagem aos consumidores que é bom comprar o produto do hortelão, com bicho e com terra. Esses alimentos poderão, ou não, ser bons, mas os que a grande distribuição disponibiliza são  produzidos de uma forma controlada, com padrões de qualidade, sanitários e de embalamento, muito, muito rigorosos. São mais seguros para nós enquanto consumidores. A diferença de sabor, por exemplo, é porque o produto do hortelão é apanhado mais maduro. No caso do tomate, por exemplo, o produtor com que falámos explicou que tem de o vender ligeiramente verde para não chegar às prateleiras estragado. Mas pode acabar de amadurecer em nossa casa. Pretendemos tranquilizar as pessoas e desmistificar esses mitos sobre a segurança alimentar.

MC News: O que mais o surpreendeu durante “A Vida dos Alimentos”?

Carlos Afonso Duarte: A paixão com que os agricultores e as pessoas ligadas ao setor agrícola trabalham. Quando se fala com o agricultor, vê-se que tem paixão pela terra, que tem preocupações com o ambiente, com o desperdício de água. As pessoas acham que os agricultores estragam a água com químicos, mas preocupam-se muito mais do que nós. Na rega gota a gota só colocam as gotas necessárias em cada planta, ou, por exemplo, numa exploração do milho têm uma sonda, fazem análises ao solo e só regam x metros cúbicos para determinada área. Achamos que o agricultor é aquele senhor da enxada, de camisa aos quadrados. Hoje, grande parte do trabalho da agricultura faz se no escritório, faz se através das novas tecnologias, dos smartphones e de satélites.

MC News: O  programa teve reflexos na sua cozinha?

Carlos Afonso Duarte: Talvez, mas sempre fui muito ligado ao produto. Sempre gostei de pescar, de fazer hortas, de ir à  apanha disto e daquilo. Os meus primeiros trabalhos de verão, ainda jovem, em Beja, eram no campo: a tirar a palha,  a apanhar melão,  a apanhar azeitona. Essa experiência acabou por se refletir na minha cozinha, mas sem dúvida que o programa – que me fez mergulhar durante um ano e meio neste mundo – me fez ficar ainda mais ligado aos alimentos, o que se refletiu nas cartas do meu novo restaurante, o Oitto.

MC News: Depois desta experiência, que conselhos dá aos portugueses?

Carlos Afonso Duarte: Comprem produtos portugueses, por questões de segurança, porque temos de nos virar para a nossa economia local e ser os primeiros a respeitar os nossos agricultores. Temos alimentos espetaculares, tenham orgulho no produto feito em Portugal. E se pagarem mais dez ou 15 cêntimos, a qualidade compensa. Há ainda a pegada ecológica: uma pera do Oeste está em Lisboa numa hora. Compramos fruta de outro continente e tem de vir de barco ou avião. Nada contra, para podermos ter produtos o ano inteiro, mas sempre que possível comprem local, sazonal e produto português.

Recorde aqui, no TVI Player, os episódios já emitidos de “A Vida dos Alimentos”.