O mundo atravessa uma grave crise de segurança em diversos pontos do globo, sem uma perspetiva clara de resolução. À incerteza dos diversos conflitos junta-se uma competição crescente pela liderança mundial entre os Estados Unidos e a China. A relevância da Europa tem sido cada vez mais posta em causa. Apesar de ainda ser um player fulcral, existe uma clara sensação de evidente declínio europeu.
A Europa enfrenta desafios que limitam o seu crescimento e competitividade como o envelhecimento populacional, incapacidade de atrair o melhor talento mundial, uma estrutura política complexa e uma enorme incapacidade de atrair investimento relevante em inovação. Estes e outros fatores concorrem para dificultar a construção de uma estratégia coesa para o continente.
Num cenário em que a instabilidade geopolítica e a dependência energética já revelaram as suas fragilidades, é essencial que a União Europeia redefina seu papel e trave a desaceleração do crescimento económico e perda de competitividade face a outros blocos económicos.
O Draghi Report, elaborado por Mario Draghi, coloca a competitividade futura da Europa no centro do debate, sendo uma tentativa muito positiva de apontar caminhos. Além de um diagnóstico certeiro, propõe um roteiro comum para recentrar o papel da União num mundo multipolar.
Contudo, cabe-nos a nós, europeus, encontrar caminhos que restabeleçam o papel da Europa nos destinos do mundo, devolvendo ao continente uma posição central e, assim, poder dar um contributo para a construção de um futuro melhor. Perante este contexto, o CNN Portugal International Summit, a que a Deloitte se associa novamente, ajudará a refletir sobre o caminho que a Europa deve trilhar e a forma como se deverá posicionar internacionalmente para manter a sua relevância histórica.
São muitos os trunfos que a Europa ainda possui. Longe de um declínio fatal, resta aos Europeus escolher liderar e reposicionar o continente como primeiro em áreas estratégicas. Aponto três, a título de exemplo: biotecnologia, tecnologias limpas e cibersegurança, áreas-chave e de futuro, pilares nos quais a Europa pode alicerçar o seu crescimento.
A Europa já possui um ecossistema bem estabelecido no campo da biotecnologia, com uma quota de mercado de 29%, que compara com os 38% dos EUA. Com a sua base em biofarmácia, o setor promete triplicar de dimensão nos próximos três anos, devido ao avanço de tecnologias de combate a doenças crónicas. Apoiada pela inteligência artificial, poderá modernizar setores como a agricultura e a energia.
Quanto às tecnologias limpas, ou cleantech, nas quais a União Europeia (EU) tem demonstrado nas últimas décadas uma firme posição, destaco o caminho feito nas energias renováveis. Com um investimento global estimado em 200 mil milhões de dólares, e expectativas de triplicar, este mercado revela-se um caminho crítico para melhorar o ambiente, agregar valor económico e gerar competitividade.
A cibersegurança, por sua vez, é outra plataforma estratégica para a Europa. Num mundo onde a segurança digital se tornou crítica, o foco europeu em regulamentação, exemplificado pelo RGPD e pela criação de centros de excelência, coloca a UE numa posição única. Com mais de 60.000 empresas e 660 centros especializados em cibersegurança, a Europa pode ser líder mundial em proteção de dados e privacidade, essenciais para consumidores e empresas numa era de crescente vigilância digital e ataques cibernéticos. A Europa possui um mercado que cresce a uma taxa de 17% ao ano, o que evidencia o potencial de expansão e liderança do setor.
Contudo, para concretizar este futuro de liderança, a Europa precisa de estruturar ecossistemas robustos em cada uma destas áreas, criando plataformas de cooperação entre setor público e privado e promovendo incentivos para reter e sobretudo atrair talento de ponta.
É crucial definir um novo "tabuleiro estratégico". Em vez de tentar competir em todas as frentes com EUA e China, a Europa deve focar-se em áreas onde já possui competências especializadas e um ambiente favorável.
Este é o tempo de nós, os cidadãos, as empresas, os mercados europeus, renovarmos a abordagem e executar estratégias corajosas que se traduzam em competitividade e desenvolvimento e reverter o ciclo de estagnação, reassumindo um papel de destaque no panorama global, comprometidos com os valores de paz, prosperidade e crescimento sustentável.