A série de livros “Mistério” da jornalista da TVI Isabel Moiçó e de Ana Valente, antiga profissional da estação, conta com mais um exemplar. “Mistério no Fundo do Mar” foi lançado para adultos na semana passada, com Gilmário Vemba e Júlio Magalhães, e para mais de 550 crianças na Carrapateira, onde decorre a ação. A ideia de escrever o livro que iniciou a coleção nasceu na TVI a partir de um desafio: “porque é que não o escreves tu?”.

 

MC News: Onde nasceu a ideia de escrever livros infantis? Sei que quando era pequena gostava muito de ler.

Isabel Moiçó: Sou da geração dos “Cinco” e dos “Sete”, da Enid Blyton, e nessa altura lia tudo. A ideia surgiu na TVI: tenho dois filhos que, em particular o mais novo, gostam muito de ler. Na altura o meu filho mais novo era doido por dinossauros e tinha muitos livros sobre o assunto. Já tinha acabado de ler os seus livros todos e fui a uma grande superfície para lhe comprar mais um, mas não encontrei nada que ele não tivesse ou que me parecesse que achasse piada. Cheguei à redação, comentei com a Ana Valente o que se tinha passado e ela lançou-me o desafio: “porque é que não o escreves tu?”.

MC News: E acabaram a escrevê-lo as duas.

Isabel Moiçó: Exato. Eu olhei para ela e disse-lhe que seria giro se escrevêssemos as duas. Aceitou e começámos a escrever a quatro mãos, mas era uma história para o meu filho, apenas. Quando acabámos de escrever, olhei para o livro e pensei: “isto é giro.  E se puséssemos aqui umas ilustrações?”. Falei com o Paulo Silva, que é o ilustrador do livro, que conheço há muitos anos, e lancei-lhe o desafio. Ele leu o livro, também achou um piadão e aceitou fazer as ilustrações. Assim ficámos com o manuscrito na mão, antes de pensarmos num livro para vender, para outras crianças.

MC News: A ideia veio a seguir?

Isabel Moiçó: Sim, enviámo-lo à Bertrand, gostaram muito do livro, agendaram uma reunião connosco e disseram-nos que fazia sentido publicá-lo, mas se em vez de um livro fosse uma coleção.  “Porque não?” e avançámos.

MC News: Entretanto já vão no terceiro livro, com o primeiro publicado em 2020.

Isabel Moiçó: Estamos a escrever um por ano, até porque todos nós temos outras atividades, não vivemos disto, nem para isto. O próximo será publicado para o ano e já está a desenhar-se…

MC News: O seu filho gostou do “Mistério no Museu dos Dinos”?

Isabel Moiçó: Adorou! O mais engraçado é que no colégio têm uma espécie de clube de leitura, onde têm de apresentar um livro à turma. Quando foi a vez dele, foi muito orgulhoso com o livro, que ainda para mais era sobre dinossauros. Achei muita piada porque estava a praticar a apresentação em casa e dizia: “Vou falar-vos sobre o “Mistério no Museu dos Dinos”, é um livro escrito pela Ana Valente e pela Isabel Moiçó e a Isabel Moiçó… é a minha mãe!”.

MC News: Imagino que muito orgulhoso. As personagens são a Sherlock e o Jossauro, o Jossauro é o seu filho?

Isabel Moiçó: Ele não acha muita piada, mas inspirei-me muito nele, nas saídas e comentários dele. As personagens são o João e a Rita: como o João gosta muito de dinossauros é o Jossauro, a Rita quer ser detetive e é a Sherlock. São grandes amigos.

MC News: Onde se inspiraram nos restantes livros?

Isabel Moiçó: Geralmente reunimo-nos os três e começamos a discutir temas. Quanto ao livro dos bombeiros, achámos que o tema era pertinente - Portugal sofre deste flagelo que são os incêndios e fazia sentido falar desta questão. O nosso objetivo é que os miúdos também aprendam qualquer coisa, que não seja só lúdico, mas também que haja uma componente educativa, instrutiva no livro: o que devem e não devem fazer, como devem agir se forem confrontados com um incêndio, e por aí fora. A escolha dos temas acontece muito na lógica de “já falámos de bombeiros, de dinossauros, do fundo do mar, agora vamos falar do quê?”. Ainda na semana passada aconteceu isto mesmo quando fomos fazer uma apresentação na Carrapateira para as escolas de Aljezur.

MC News: Que correu muito bem.

Isabel Moiçó: Foi ótimo, maravilhoso, os miúdos adoraram. Eram mais de 500 crianças, foi muito giro. Voltando atrás, íamos os três no carro a decidir sobre o que íamos falar e por acaso já sabemos do que vamos falar no próximo livro.

MC News: Vai ser sobre o alto da serra? Do fundo do mar ao alto da serra…

Isabel Moiçó: Talvez, talvez. É mais, como hei de dizer, doçaria? Não posso dizer grande coisa, mas há de ser por aí.

MC News: Tem levado a sua experiência como jornalista para os livros?

Isabel Moiçó: Sim e ajuda-me imenso.  Como disse, uma das coisas que procuramos é que sejam educativos e se há coisa que tenho pavor é de dizer asneiras. Por isso, temos especialistas a rever os livros. Nos dinossauros, tivemos um especialista a fazer a revisão técnica do livro; no dos bombeiros, foi um bombeiro; e, agora, no ‘Mistério do Fundo do Mar’, foi um arqueólogo subaquático. Estive nos incêndios de Pedrógão e lembro-me da terra queimada, absolutamente negra, e é óbvio que acabamos por transportar sempre alguma coisa para os livros. A Ana Valente também foi jornalista durante muitos anos na TVI e partilhamos ambas a mesma visão: escrevemos para crianças, mas claro que a escrita tem muito a ver com as nossas experiências.

MC News: Como se escreve um livro a quatro mãos? Já a Isabel Alçada e a Ana Maria Magalhães, do ‘Uma aventura’ também o faziam.

Isabel Moiçó: Nós também somos Ana e Isabel, é engraçado. Mas quem nos dera! Quanto à escrita, uma de nós dá o pontapé de saída e deixa indicações para o capítulo seguinte. A outra ou segue as indicações ou inventa uma coisa completamente diferente. E às vezes é muito giro, porque pensamos que a história vai num sentido e de repente vai noutro. Não é um processo rígido, em que cada uma escreve um capítulo, pode acontecer uma de nós escrever três capítulos de seguida porque a escrita está a correr muito bem. Vamos mandando os capítulos para o Paulo, o ilustrador, e ele às vezes dá sugestões. Ainda neste último livro aconteceu: tínhamos um vilão e ele disse que precisávamos era de ter uma vilã, “é muito mais giro porque as pessoas não vão estar à espera”.

MC News: Resolvendo este mistério: porque escolheram um humorista, Gilmário Vemba, para apresentar um livro infantil?

Isabel Moiçó: Foi tão engraçado! A editora lançou o desafio de fazermos uma apresentação para adultos – temos feito, mas para crianças – e decidimos ‘vamos lá desconstruir isto’, porque não acho muita piada às apresentações formais de livros.  O Gilmário fez todo o sentido – ainda antes de saber que ia ganhar o Globo de Ouro em Angola, foi uma honra. Convidámos também o Juca (Júlio Magalhaes), que é um comunicador maravilhoso, também de Angola - a nossa Sherlock tem raízes africanas. Outra coisa maravilhosa é que uma das filhas do Gilmário adora ler e escrever e foi com ele à apresentação.

MC News: A escrita infantojuvenil deu-lhe vontade de escrever para adultos?

Não, adoro o publico infantil. Uma coisa que temos estado a fazer e que nos dá um gosto incrível é ir às escolas apresentar os livros – aliás uma escola adotou, no ano passado, um dos livros como leitura obrigatória. Fiquei toda orgulhosa, mas por outro lado é uma responsabilidade enorme. Voltando à escrita, estou muito bem assim e na verdade tenho a oportunidade de escrever para adultos sempre que faço uma reportagem. Estou no melhor dos dois mundos.