Se o céu não nos voltar a cair em cima, a economia portuguesa deverá registar este ano um crescimento económico tão forte que é preciso recuar ao final dos anos 80 para encontrar números iguais. Portugal vai acabar o ano com uma taxa de desemprego das mais baixas dos últimos quinze anos. E à boleia desta conjuntura, o país ficará muito próximo de um orçamento equilibrado.

Mas… há sempre mais qualquer coisa.

E por isso me lembrei do Diabo dos Números. Não porque antecipe que o diabo esteja ao virar da esquina. O Diabo dos Números é apenas um pequeno livro sobre uma criança que não compreende a matemática. E é nos sonhos que encontra um pequeno diabo que acaba por lhe ensinar os truques dos números.

E os números, sem mais enquadramento, são só isso: números.

Na verdade, em 2022, o (enorme) crescimento dará para pouco mais do que recuperar a queda histórica que a economia sofreu em 2020. A descida do desemprego só foi possível porque o Estado gastou muito – e bem - para que as empresas não despedissem. E as contas certas são possíveis porque a subida da inflação está a encher os cofres do Estado de impostos e o país continua a beneficiar de uma fatura muito reduzida com os juros da dívida pública.

Mas tudo isto está a mudar rapidamente.

A subida dos preços não parece, de todo, temporária. E ameaça manter-se por tempo indeterminado. Para travar as pressões inflacionistas, os bancos centrais estão a subir taxas de juro um pouco por todo o mundo, dos Estados Unidos da América à Austrália. E a história mostra-nos que nestas situações, em boa parte das vezes, as economias são empurradas para uma recessão.

Na Europa não será diferente. As taxas de juro do Banco Central Europeu vão começar a subir já em julho. A fatura do crédito vai pressionar muito as famílias e as empresas. Mas vai pressionar ainda mais o Estado português que carrega uma enorme dívida pública reduzindo-lhe margem de manobra para apoiar quem vier a precisar.

Não é o diabo. É um novo ciclo da política económica que se aproxima.