Há momentos em que a vida escolhe por nós. Há casos em que as evidências nos entram pelos olhos dentro. E depois há acasos, que juntam tudo, criam oportunidades e mostram o caminho.

Em janeiro, quando o Anselmo Crespo e o Pedro Benevides me desafiaram para colaborar com a TVI24, no que haveria de ser A Lei da Bolha e Os Quatro, respondi que sim, mas. O “mas” tinha que ver com o futuro que, por essa altura, já estava desenhado com a minha família. Tínhamos decidido mudar-nos para o Japão, e Tóquio seria a nossa morada pelos próximos anos. 

Tóquio era um problema... mas chegámos a um acordo: eu adiaria a minha viagem, para poder participar nos dois programas. Em maio, com a notícia de que a Media Capital tinha chegado a acordo para o lançamento da CNN Portugal, a evidência entrou-nos pelos olhos dentro: Tóquio deixara de ser um problema, era uma oportunidade. 

A atenção ao mundo, com cobertura noticiosa global, é uma das marcas mais importantes da CNN. Por isso, a CNN tem dado cada vez mais atenção à Ásia-Pacífico - porque cada vez mais o que aí se passa é essencial para se compreender este tempo.

O eixo das grandes tensões políticas, militares, diplomáticas e económicas deslocou-se do Atlântico para o Pacífico. Boa parte da capacidade industrial do planeta deslocalizou-se para a Ásia, a nova fábrica do mundo. Como vimos no primeiro impacto da pandemia da covid, a dependência ocidental em relação aos produtos made in Asia - em particular in China - é um dos factos mais relevantes do século XXI. Continuamos a testemunhá-lo, com a crise global das cadeias de abastecimento.

A China tornou-se a segunda maior potência económica do mundo, a seguir aos EUA (e não há dúvidas de que as posições se vão inverter). O top 3 completa-se com o Japão. São também estes os países mais inovadores do mundo. Com grande poder económico veio grande poder geopolítico, na forma de soft power e de hard power. A tensão sobre Taiwan é um bom barómetro. A repressão crescente em Hong Kong e Macau é um mau sintoma. 

O contraponto tem sido a busca de alianças reforçadas entre os EUA e os países amigos na região, como o Japão ou a Coreia do Sul. Não é difícil adivinhar que se reforçará a centralidade de Tóquio e de Seul nesta espécie de nova guerra fria que opõe Estados Unidos e China. E convém não esquecer que a península coreana continua a ser uma bomba relógio.

Tenho a sorte de me mudar para o novo centro do mundo quando a CNN chega a Portugal. Será um privilégio integrar este projeto como correspondente para a Ásia, baseado em Tóquio. #EmTodasAsFrentes, mais do que um slogan ou uma hashtag, é uma realidade.