Presença regular nos maiores sucessos da TVI, o ator Joaquim Horta divide-se em vários projetos, além da representação. Há uma semana estreou, no mais antigo teatro português, a sua encenação da peça “Casina”, um texto escrito há cerca de 2200 anos. Em maio tinha organizado a 7.ª edição do “Lisbon Motorcycle Film Fest”, onde reúne o seu amor pelo cinema e pelas motas.

Media Capital: Estreou há dias “Casina”, uma peça escrita no séc. II AC por um dramaturgo romano e agora em cena nas Ruínas do Teatro Romano de Lisboa, do séc. I DC. Era um desejo antigo?

Joaquim Horta: Na verdade foi um convite. Surgiu por parte da diretora do Teatro Romano, mas é, sem dúvida, um privilégio: é um espaço especial, onde se calhar esta peça já foi representada noutra altura. Poder ainda, nos dias de hoje, ali fazer teatro é um privilégio. Não estava nos meus planos, mas fico muito contente por poder fazê-lo.

Media Capital: A peça é uma versão atualizada do original?

Joaquim Horta: Mais ou menos. Fizemos uma adaptação do texto original, por exemplo tentar que o vocabulário fosse mais acessível, mas não tentámos atualizar o texto, mantivemos tudo original, até mesmo algumas coisas que hoje são um bocadinho estranhas de ouvir.

Media Capital:  Por exemplo?

Joaquim Horta: A peça gira em torno de um senhor que, de alguma forma, por ter poder, quer ter uma escrava como amante. Isto nos dias de hoje é muito estranho, politicamente muito incorreto e muito contestável. Mantivemos esse tom de abuso de poder, porque sem ele a peça perdia o seu sentido e comicidade, mesmo que às vezes faça confusão ouvir determinadas coisas.

Media Capital: A peça continua a fazer rir ou é um humor muito diferente do atual?

Joaquim Horta: Percebemos, quando lemos estes clássicos, que não inventámos nada, só adaptamos a diferentes conjunturas. Este humor continua a funcionar e as pessoas saem de lá muito bem-dispostas.

Media Capital: O Joaquim é um homem dos sete ofícios, ou no caso das sete artes, e também organiza o “Lisbon Motorcycle Film Fest”, cuja 7.ª edição se realizou em maio. Como surgiu a ideia de juntar dois dos seus grandes gostos, o cinema e as motas?

Joaquim Horta: Foi, também, mais ou menos por acaso, com os meus amigos. Havia a ideia de fazermos um filme com motas, que nunca mais se tornava realidade. Depois surgiu a ideia de, já que víamos tantos filmes de motas, tentar organizar um festival. Rapidamente consegui marcar uma reunião com o cinema São Jorge e, a partir do momento em que a parceria se tornou realidade, foi andar para a frente com o festival.

Media Capital: Fazem-se muitos filmes sobre o universo das motas?

Joaquim Horta: Fazem-se e bastante variados. Filmes de ficção, documentários, coisas bastante diversas. Temos conseguido trazer filmes curiosos, sempre que podemos trazemos o realizador, o protagonista ou o produtor, temos proporcionado alguns encontros bem engraçados. Estamos contentes, lá está, por conciliar duas áreas que nos dão prazer.

Media Capital: No meio de todas estas atividades, quem é que é mais o Joaquim Horta? O ator, o encenador, o organizador e programador do festival? Onde se sente mais realizado e feliz?

Joaquim Horta: É difícil responder. Gosto de todas essas áreas e posso dizer que sou realmente feliz em todas elas.

Media Capital: Consegue ter tempo para todas, com três filhos pequeninos, dois deles gémeos?

Joaquim Horta: Os meus filhos ocupam-me bastante. Não sou muito organizado, mas quando gostamos das coisas vamos conseguindo arranjar tempo e conseguindo que as coisas aconteçam.

Media Capital: É uma pessoa mais motivada que organizada?

Joaquim Horta: Sim, sem dúvida (risos).

Media Capital: Como foi a sua experiência em novelas de humor como a “Rua das Flores” e em “Festa é Festa”?

Joaquim Horta: Gosto muito, gosto muito do humor e tenho pena que não se trabalhe tanto esse universo. Divirto-me muito, foi muito bom ter feito logo as duas novelas, e espero que surjam mais projetos neste registo na ficção. Temos talentos para isso.