O que distingue “Quero é Viver”? Já sabemos que uma protagonista de 70 anos e muitas mulheres no elenco principal. Mas outras marcas únicas da novela são a música de António Variações, os pensamentos ou desabafos das personagens e a sua plástica única. 


Comecemos pela importância da música, explicada pela autora, Helena Amaral. “A escolha do título da novela, e do tema musical do genérico, aconteceu logo com a aprovação do primeiro episódio, escrito ao ritmo de ‘Quero é viver’ então ainda na versão d’os Humanos”.  António Variações compôs a canção em 1983 e deixou-a apenas em maquete – só em 2004 a banda Humanos a gravaria em disco, pela voz de Camané.


A influência da música não ficou pelo genérico. A escrita dos episódios subsequentes “pretendeu reproduzir esse ritmo musical e narrativo, sincopado, e o tom enérgico que a versão de Sara Correia [escolhida pela Plural para cantar o genérico] também tem”. 


Manuel Amaro da Costa, diretor de projeto e realizador da novela, destaca “a estética e a dinâmica” de “Quero é Viver”.  São estes elementos que procuram “dar forma a uma história que celebra a vida, utilizando ferramentas que tentam potencializar a mesma, procurando envolver mais os espectadores na trama”. Exemplos deste trabalho são a “anulação da 4.ª parede, a procura constante do ângulo certo e não do óbvio, bem como a dinâmica criada nas cenas”, recursos que procuram “passar para o espectador mais emoção das cenas e, consequentemente, na vida dos personagens”.


Ainda no campo das emoções e dos sentimentos, “uma das grandes novidades são os ‘Pensamentos’, desabafos dos personagens para o espectador”, refere o diretor. Aliás, este “momento em que o ator ‘desmancha’ e entra numa zona entre si, como individuo, e o personagem, foi um dos maiores desafios”.  Que correu bem, considera, já que a equipa teve a “a felicidade de encontrar uma solução que ajuda a potenciar esses momentos sem descolar da história” - que, acrescenta, “acaba por ser bastante eficaz e moderna”.


“Uma plástica única”


Helena Amaral realça que outra das particularidades de “Quero é Viver” é a sua história “marcadamente familiar, logo, sem acontecimentos bombásticos”. Um traço que “trouxe alguns desafios para assegurar um bom ritmo” da novela", suplantados pela utilização de “frases mais curtas, criadas para serem ditas em sequências de cenas que, por si só, dessem o movimento quotidiano da vida das personagens, e que o público reconheça como verosímil”. 


“A escrita desta novela”, refere, tem ainda tido a preocupação de “dotar de sentido tanto o que é dito como o que fica por dizer. Como na vida de todos nós”. 


Nesta “novela diferente de todas as outras que não é melhor, nem pior, é diferente, única e é nossa”, Manuel Amaro da Costa destaca mais um fator marcante: “a sua plástica”.


“Única e fruto do trabalho de uma grande e unida equipa que ajudou a dar forma a esta história tão real a vários níveis”, acrescenta o realizador. Um capítulo que começa no "excelente e variado figurino, caracterização e cabelos que ajudam a dar forma aos personagens tornando-os tão reais e diferentes entre si, passando pelos adereços que lhes dão vida e movimento e finalizando nos magníficos e tão reais décores iluminados de uma forma cuidada e com bastante elegância”. Somados todos estes fatores, “conseguimos ter a nossa própria identidade”.

 
A esta receita complexa destinada a criar um produto único, Amaro da Costa refere “o último dos passos, e dos mais importantes, que é a edição e sonoplastia”, pois são estas “que ajudam a juntar e dar forma a todo o trabalho anterior”. 


O segredo deste produto? Helena Amaral responde: “O principal é a ligação estreita com a coordenação da novela. Tento, com a escrita que o coordenador respeita, servir o seu olhar, em que confio, e de que muito gosto”.