João Pedreiro conta com 16 anos de direção de atores na Plural, cargo que ocupa na novela “Quero é Viver”, a nova aposta da TVI. Nesta entrevista, o ator relata o seu percurso “muito feliz” na Plural, os desafios que encontrou ao dirigir os atores desta novela e as expectativas de que “abra mentalidades, que liberte pessoas” e que estas “se ultrapassem e percebam que seja qual for a idade, há muito para fazer”.

MC News:  Uma novela em que todos os protagonistas são do mesmo sexo, no caso mulheres, não é habitual. Esta situação coloca algum desafio particular?

João Pedreiro: Vivemos numa sociedade maioritariamente masculina e por isso parece-me essencial dar-se visibilidade ao poder e às capacidades das mulheres para se conseguir chegar a uma igualdade. Não é a primeira vez que isto se faz na TVI, há uns anos tive a sorte de dirigir uma das melhores novelas que fiz, “As Mulheres”, com sete mulheres protagonistas. Desta vez são cinco. Um destes dias tive uma conversa com o Diogo Infante, com a São José Lapa e com a Fernanda Serrano. Estávamos a falar sobre uma situação que ainda vai acontecer na novela e, curiosamente, o meu ponto de vista e o do Diogo era bastante diferente do da São José e da Fernanda. Por isso é essencial expormos os vários pontos de vista, todos ganhamos com isso.

MC News:  E desafios?

João Pedreiro: Esta novela trouxe-nos alguns, a mim, ao Vitor Hugo e à Vanessa Dinger, que fazem equipa comigo. Vários atores têm personagens muito diferentes do esperado: o Fernando Rodrigues, a Helena Isabel, o Isaac Alfaiate, a Rita Pereira, a Margarida Corceiro e por aí fora. É um privilégio ajudá-los a afastarem-se do que estão mais habituados a fazer. Outro grande, grande desafio foi o tom da novela, pois, não sendo comédia, desde o início sabíamos que o objetivo é fazer as pessoas sorrirem. Foi desafiante encontrar esse tom, para que por mais densos que sejam os temas nos façam sorrir e pensar neles de forma mais descontraída - atravessamos uma fase difícil e as pessoas não querem estar a ver grandes dramas de uma forma muito dura. Finalmente, outro grande desafio foram os pensamentos. Como pomos as personagens a falar para a câmara? Falam consigo próprias, falam com o público? Estávamos todos com algum receio porque não é fácil fazê-lo, mas hoje acho que estão muito bem conseguidos porque ligam as pessoas em casa às personagens, criam uma cumplicidade que de outra maneira não é conseguida.

MC News:  O que destaca do seu trabalho nesta novela?

João Pedreiro: Não consigo falar especificamente sobre esta novela. A direção de atores é sobretudo um trabalho de compreensão das personagens, da natureza humana, por isso temos de estar preparados para defender o ponto de vista de todos, desde o mais simpático ao mais agressivo. Vou dar um exemplo desta novela: temos a homossexualidade abordada de duas formas, numa personagem com enorme preconceito, noutra apenas como mais uma característica. É importante que quem vive com estes problemas possa perceber que os pode abordar de outra maneira, que pode relativizá-los - isso é muito a função da televisão, dar outras formas de ver. Outra coisa muito importante é a protagonista ter 70 anos. Há alguns anos viajei para São Tomé e Príncipe e conheci uma senhora de 66 anos que ia fazer voluntariado, o que sempre tinha querido, mas nunca tinha tido tempo para fazer. Nunca me esqueci disto. Agora temos uma personagem - a São José é uma atriz brilhante, está a fazer uma Ana maravilhosa - que vai chegar a milhões de espetadores e trazer essa esperança a todas as pessoas, mas fundamentalmente às mulheres que me parece ser quem acaba por se retrair mais de ir à aventura e fugir.

MC News:  Que expectativas tem para “Quero é Viver”?

João Pedreiro: Que abra mentalidades, que liberte pessoas, que as faça continuar a querer sonhar, a querer viver, que se libertem de tabus, que se divirtam, que sorriam perante os seus problemas, que se ultrapassem e percebam que seja qual for a idade, há muito para fazer. No fundo, que seja uma lufada de esperança para toda a gente. É esta a minha grande expectativa e, pelas audiências e pelo que sei, está a correr muito bem e espero que assim continue. A novela merece e as pessoas também porque precisam de sorrir, precisam de esperança.

MC News: A sua primeira colaboração com a Plural aconteceu em 2005. Como é trabalhar nesta produtora?

João Pedreiro: Sim, começou na novela “Mundo Meu” e tem sido um percurso muito prazeroso. Comecei nas novelas da noite – “Mundo Meu”, “Tu e Eu”, “Deixa-me Amar” – e depois tive uma proposta para ir para os “Morangos com Açúcar” para substituir o Tó Melo durante 1 mês e meio. Acabei por ficar 4 anos e meio e foi um projeto fabuloso, marcou-me como pessoa, marcou o meu percurso e, sobretudo, ajudou-me a passar valores a novos atores que começaram comigo. Depois voltei às novelas da noite, com o “Doida por Ti” e por aí fora. São 16 anos muito ricos, de grande aprendizagem e a fazer grandes amigos. Conheci alguns dos meus melhores amigos na Plural.

MC News:  O que distingue a Plural?

João Pedreiro: Não posso falar com grande conhecimento de causa por que só trabalhei na Plural. Mas se fui ficando é porque me sinto parte desta família, sinto-me extremamente acarinhado, respeitado, porque me permitem ter a minha dose de loucura nos projetos e permitem que tente inovar, porque acreditam em mim e porque me fazem sentir bem. Tenho trabalhado com um grupo de pessoas extraordinário. Fazer televisão obriga-nos a pensar na vida, na natureza humana e no que queremos espelhar lá para fora. A Plural tem-me permitido fazê-lo. Sou muito feliz a fazer o que faço e sou muito feliz na Plural.