Qin Gang desapareceu. O ministro dos Negócios Estrangeiros da China não é visto em público desde 25 de junho - e isso tem gerado especulação porque está a falhar importantes compromissos diplomáticos. Ele, que era o anfitrião, não recebeu, esta semana, os altos funcionários norte-americanos Janet Yellen e John Kerry. No início do mês, desmarcou o encontro com o chefe da política externa da União Europeia, Josep Borrell, sem dar explicações. E faltou a outros importantes encontros que tinha na sua agenda.
A notícia foi publicada em todo o mundo, mas não responde à pergunta que formula. Onde está Qin? Questionado sobre esta misteriosa ausência, o porta-voz do ministro disse aos jornalistas não ter informações a revelar, mas garantiu que todas as atividades diplomáticas decorrem normalmente. Noutro momento, apontou-lhe problemas de saúde – e mais não disse. Nenhuma dessas referências ao ministro desaparecido faz parte das transcrições das conferências de imprensa disponibilizadas no site do ministério.
Qin Gang está a ser apagado da memória da mesma forma que outros altos funcionários do governo chinês que desaparecem de um dia para o outro e, ao fim de muitos meses ou até anos, soubemos que estavam detidos para investigação. E nunca mais foram ninguém ou tiveram futuro no regime totalitário que é a China. Nunca mais soubemos deles. Se Qin Gang não fosse esperado em encontros diplomáticos com outros países, provavelmente não saberíamos que está desaparecido. Esperemos que Qin Gang tenha apenas um problema de saúde e, já agora, que o ultrapasse.
Sabemos que Qin Gang está desaparecido porque o jornalismo é um desafio diário que só é possível em democracia. A notícia foi publicada em todo o mundo a partir de informações divulgadas pela agência de notícias Reuters, que fala para o mundo, mas não a partir da China. É em momentos como este que percebemos que a liberdade de imprensa foi um dos principais bens que a democracia nos trouxe. E é preciso continuar a formar jornalistas para garantir que o jornalismo continua a desempenhar um papel fundamental na democracia, ajudando a manter os cidadãos informados e capacitados para tomar decisões conscientes, mas também vigiando e fiscalizando o poder em busca da verdade dos factos e da transparência.
Vem isto a propósito da nova edição da Pós-Gradução em Jornalismo, numa parceria ISCTE-Media Capital, cujas inscrições estão abertas. Este será o 11º curso e têm saído daqui excelentes jornalistas que todos os dias procuram chegar aos factos e informar. Jornalistas, precisam-se!