“Pecado”, a nova série da TVI que estreia já no próximo sábado, resulta de uma coprodução entre a estação de Queluz de Baixo e a produtora independente Maria & Mayer, cuja direção está a cargo de Maria João Mayer. Com um vasto currículo como produtora, Maria João Mayer já trabalhou com alguns dos mais importantes cineastas portugueses, como Marco Martins, Gabriel Abrantes, Margarida Cardoso, entre outros. Em entrevista à MC News, a profissional conta-nos como foi o processo de produção de “Pecado” e reflete sobre a importância de as televisões diversificarem a sua aposta em conteúdos de ficção.

MC News: “Pecado” divide-se em seis episódios e conta com um elenco de luxo. Como decorreu a produção deste projeto ?

Maria João Mayer: Foi um processo colaborativo entre várias pessoas. Primeiro, houve o contacto do José Eduardo Moniz, dizendo que tinha um argumento escrito pela Maria João Costa e que gostava que eu lesse. E assim foi. Senti logo que a história tinha um grande potencial e assumi a responsabilidade de conseguir financiamento, nomeadamente junto do Instituto de Cinema e Audiovisual (ICA) e do PIC Portugal. Preparámos as candidaturas e conseguimos o apoio. Claro que ajudou já termos o apoio da TVI para a garantia dos direitos de exibição e coprodução. A Câmara de Estremoz também nos deu um suporte importante, com parte da série a ser filmada nesta cidade alentejana. Depois de reunidas as condições financeiras, foi tempo de constituir equipa. Conseguimos excelentes atores e um realizador (António Borges Correia) com uma grande sensibilidade.

Com uma série em língua portuguesa bem produzida e bem promovida, podemos chegar ao público de todo o país e além-fronteiras.

MC News: Quanto tempo demorou a rodagem?

MJM: A rodagem durou cerca de seis semanas, mas antes já tinha havido um trabalho de preparação grande. O realizador e os atores fizeram vários ensaios. Andámos à procura dos locais ideais para as filmagens, definimos o guarda-roupa, etc. Foi um trabalho intenso.

MC News: Com um vasto currículo como produtora, qual o papel que atribui às televisões para a diversificação dos formatos de ficção no nosso país?

MJM: Têm um papel fundamental. As televisões têm a capacidade de chegar a muito mais gente do que o cinema, não desprezando este formato. Com uma série em língua portuguesa bem produzida e bem promovida, podemos chegar ao público de todo o país e além-fronteiras. Agora, temos é de produzir bem e estar cientes de que fazer séries e telefilmes é diferente de fazer novelas. 

MC News: O que exigem as séries, por exemplo?

MJM: Uma maior subtileza dos diálogos, uma narrativa que obedece a outro ritmo, que tem de ser capaz de surpreender. E temos de apostar em bons atores, bons realizadores, direção de fotografia e arte, pós-produção áudio, correção de cor, música. A minha experiência diz-me que o público gosta de produtos diferentes. E mesmo que não se ganhe à primeira, acredito que, com bons trabalhos, as pessoas se rendem a novos géneros. 

MC News: Os hábitos de consumo de séries mudaram muito nos últimos anos...

MJM: Porque as séries também mudaram, tornaram-se melhores.  Estou convencida de que a internacionalização também é muito importante. É uma segunda janela de oportunidade para a nossa ficção. Podemos levar os nossos produtos a mercados da especialidade e explorar as plataformas de streaming. Não podemos ficar só fechados em Portugal.

MC News: Em 2015, foi uma de cinco mulheres distinguidas nos Prémios “Mulheres Criadores de Cultura", promovido pelo Ministério da Cultura. O trabalho de produção em Portugal é mais desafiante para as mulheres?

MJM: (silêncio) A produção de cinema, a realização, a produção... São áreas onde encontramos mais homens. É inegável. Mas, até hoje, no meu trabalho, não senti animosidade por ser mulher. A igualdade ainda não existe, não tenhamos ilusões. E a verdade é que a existência de prémios só para mulheres é sinal de que algo não está bem. Mas, por agora, estes prémios são importantes e necessários.