A avaliar pelo currículo parece já ter vivido, pelo menos, três vidas. Susana Marques Pinto, figurinista, começou cedo e não tem data para parar de trabalhar porque os sonhos por concretizar são muitos. Os primeiros passos foram dados na Yves Saint Laurent – Rive Gauche, em Londres, mas o seu fascínio pela imagem começou ainda mal sabia falar:  “colava-me às lojas de roupa como as outras crianças se colavam às lojas de doces”.

Susana Marques Pinto trabalha hoje para a Plural, como consultora de figurinos, e entra em cena de cada vez que é preciso pensar no guarda-roupa para uma nova novela da TVI. “Vestir, literalmente, personagens dá muito trabalho”, conta. Tudo começa com uma série de reuniões que balançam entre o diretor de projeto e o argumentista. Uma vez interiorizado o briefing, Susana Marques Pinto lê o guião da telenovela, os primeiros dez episódios, conhece os espaços onde as personagens vivem e tenta documentar-se de tudo o que a possa ajudar na composição do guarda-roupa, que tem de estar em sintonia com os cabelos e a maquilhagem. Estamos a falar de um processo complexo, que dura cerca de três meses.

Ficção rima com criatividade e, essa, dá muito trabalho. Susana Marques Pinto, faz cerca de três projetos por ano, o equivalente a 120 personagens. E o número de coordenados de cada personagem oscila bastante. Depende da classe social, se tem mais ou menos protagonismo ou se passa por alguma mudança ao longo da história. “Podem ser centenas de peças, umas compradas e outras alugadas”, conta a stylist.  

Sem desvendar o segredo, que é a alma do seu ofício, Susana Marques Pinto adianta que se agarra às características mais marcantes de cada personagem e que usa os adjetivos como truque. “Através da roupa, tento dar vida, por exemplo, ao sarcasmo, teimosia, rebeldia ou resiliência”.