Num contexto de crise permanente, é normal sentirmos a necessidade de mais liderança. Não admira, portanto, que muitos se queixem da falta dela. Diz-se por aí que o mundo precisa de líderes. Sim, claro. Mas sempre precisou. A questão que se coloca, no entanto, é: que tipo de líderes?

Nenhum líder é hoje capaz de dar uma visão indubitável do futuro. Nem sequer de estar a par de todas as tendências e mudanças. Vejam-se as questões do trabalho híbrido trazidas pela pandemia. A crescente automação do trabalho. A fragilidade das cadeias de distribuição globais. O fenómeno económico complexo de estagflação. As guerras e as migrações e as mesmas na ordem inversa. Nenhum líder tem respostas claras para estes temas. Então, se o líder pouco sabe, como pode decidir? Que papel lhe sobra? A meu ver, são três as tarefas do líder de hoje: esclarecer o propósito, questionar com clareza e envolver com confiança.

O propósito tem um valor que vai para além da visão. O propósito esclarece o contributo e valor do que fazemos. É aquilo que mobiliza as equipas e as organizações. Se o propósito for límpido, isto é, se o contributo e valor que trazemos aos outros com o que fazemos for evidente, podemos decidir de forma consciente sobre as opções que devemos tomar.

Questionar é o instrumento fundamental da criatividade e da direção. Permite desafiar pressupostos, esclarecer opções, decidir, aprender. Os líderes que mais me impressionaram foram sempre aqueles que melhor me questionaram. E que me fizeram querer questionar. Será talvez a maior das evidências, mas se queremos respostas, temos primeiro de pensar bem nas questões que mais importam.

Envolver é, para mim, convidar as pessoas a pensarem por si, a darem o melhor de si, para que encontrem as respostas às questões certas, para que formulem elas próprias as suas questões. Para que, com isso, possamos dar resposta à questão inicial: como podemos concretizar melhor o nosso propósito? Mas envolver implica confiar. E confiar implica sermos vulneráveis. E ser vulnerável implica a possibilidade de falhar. Não que o queiramos, mas temos de reconhecer a sua inevitabilidade para que, com isso, possamos aprender e ter sucesso.

Nada disto é necessariamente difícil de fazer. Exige, no entanto, e talvez seja essa a única dificuldade, uma mudança de mentalidade. O que importa é, talvez, mudar a forma como vemos o papel do líder. Esse “novo” papel pode ser centrado no outro, na colaboração, na curiosidade, na abertura, na autenticidade, na relação. Numa mundividência esclarecida. O mundo não precisa necessariamente de mais líderes, mas carece de líderes com mais mundo.