No início da chamada “crise de refugiados” de 2015, o tema era muito falado nos media. No entanto, ouvíamos falar apenas em números. Alguns jornais e televisões criavam, inconscientemente, a sensação de medo na opinião pública e acabaram por fomentar algum desconforto relativamente ao acolhimento de refugiados.

Mas era compreensível. Como poderiam não ter medo, se conheciam apenas um número? Se não conheciam o dia-a-dia dos refugiados nos seus países de origem? Se não sabiam do que fugiam, ou que a sua vida estava em risco?

Atualmente, a forma como a informação é apresentada mudou drasticamente, afastando-se de números e aproximando-se da verdadeira realidade dos refugiados e dos migrantes. Ouvimos as suas histórias, todos os desafios que enfrentaram e superaram durante o seu percurso migratório. Verdadeiras histórias de resiliência, que felizmente inspiram muitas pessoas e fazem-nas crer que não se trata apenas de números, mas sim de pessoas. Pessoas iguais a todas as outras, mas com uma vida marcada pela violência, pela perseguição e pelo desespero. Hoje é, sem dúvida, mais clara a distinção de vários conceitos que muitas vezes ouvíamos antes misturados, como o de “migrante económico” ou “requerente de asilo”, por exemplo.

Em consequência desta maior participação pública de migrantes e refugiados na comunicação social, a sociedade civil passou a ouvir os vários testemunhos em primeira pessoa, contribuindo assim para o combate aos estigmas associados aos imigrantes e refugiados. Passámos a ouvir, diretamente, as suas conquistas. As histórias de tanta gente que aproveita as diferenças culturais para construir um negócio e dar a conhecer as suas origens, criando pontos de encontro de tantas pessoas que cá investem e que criam empregos. Histórias de quem contribui para a sua sociedade de acolhimento e para a prosperidade da sua economia, através do pagamento dos seus impostos e contribuições. De recordar que, em 2019, os cidadãos estrangeiros contribuíram com 884 milhões de euros para os cofres da Segurança Social portuguesa.

O acolhimento dos refugiados é um processo mútuo, que depende tanto da comunidade anfitriã, como dos refugiados acolhidos. Quantas mais histórias as pessoas conhecerem, mais rapidamente construiremos uma sociedade acolhedora. Quantas mais vidas reconhecerem, menos pesará a burocracia, pois os serviços públicos saberão, de antemão, as consequências drásticas que poderá ter na vida destas pessoas. E, quantas mais dificuldades conhecerem, mais facilmente reconhecerão que é necessário apoiá-las. Será de referir, no entanto, que existe ainda um vazio nos media relativamente ao passado destas pessoas, aos seus costumes e tradições, de forma a normalizar o contacto entre culturas e diminuir as diferenças.

É de salientar, ainda, o papel das organizações governamentais e não governamentais no fornecimento de informações fidedignas acerca das condições de acolhimento, além de explicar o processo de integração, de forma a gerir as expectativas das pessoas acolhidas e acompanhá-las ao longo do seu percurso nos países de acolhimento. Isto ajuda muito as pessoas a criarem um projeto de vida realista e investirem em ideias que facilitem a sua integração.

Em suma, para construirmos uma sociedade justa, consciente e sólida, é muito importante garantir o diálogo e a comunicação entre todos os segmentos da sociedade, e voltarmos, assim, a (re)construir a confiança na Humanidade. E é precisamente aí que reside o papel dos media: na própria educação da comunidade, na procura da verdade acerca da realidade dos imigrantes e refugiados e na construção de uma sociedade mais unida, onde a diferença não é um motivo de medo, mas de orgulho.

Relembrando as palavras de Wayne Dyer:

“Mude a forma de olhar para as coisas e pode ter certeza de que essas coisas vão mudar”.

 
*Ghalia Taki trabalha no Serviço Jesuíta aos Refugiados. Ex-refugiada da Síria, fez parte da primeira família síria que pediu asilo em Portugal.