A MCD foi convidada para participar num dos painéis do NEXTV CEO Europe, evento centrado na reflexão do streaming e das telecomunicações no contexto europeu, e que decorreu em Bruxelas neste mês de novembro. Algumas conclusões para partilha:

Tecnologia

O contexto de codificação do assets de vídeo, distribuição por streaming e sua medição mantêm a sua complexidade e não há soluções ótimas e iguais para todos. Do lado da medição este continua a ser um capítulo difícil, com uma boa parte dos streamers locais a investir menos do que devia e com dificuldades em extrair o devido valor da Data, quer por falta de recursos financeiros quer humanos. Os investimentos na componente de infraestrutura estão também a demonstrar-se demasiado onerosos para manter a viabilidade financeira de muitas operações de streaming. Quem contudo mantém forte aposta são as empresas de telecomunicações. Deutsche Telekom, Sky Labs, Liberty Global... são apenas alguns dos exemplos que estiveram presentes e com operações globais com escala. Uma convicção de muitos: quem tem a melhor tecnologia aos olhos dos clientes, ganha (melhor rede móvel, melhor fibra, melhor rede 5G, melhor UI TV, etc.).

Subscrições vs Publicidade

Em cima disto, os produtores de conteúdos até hoje têm-se debatido com modelos de monetização por via das subscrições mas comprova-se passados 10 anos que vivemos num lago e não num oceano; simplesmente não há espaço para todos na carteira dos clientes; a Norigin Media deu o exemplo que mesmo nos países nórdicos onde o streaming está massificado e há forte poder de compra é difícil alcançar a barreira dos 100.000 subscritores, considerado o tier mínimo. Como tal, o surgimento de propostas AVOD (sem custos, só com publicidade) vai ganhando adeptos. Mas voltamos ao tema da tecnologia, com necessidade dos streamers de terem Escala, Data e uma Plataforma que torne ágil a gestão do investimento e das campanhas; vão por isso ganhando terreno players de grande dimensão, como Roku, Pluto ou Rakuten Tv.

O conteúdo no centro de tudo

O conteúdo é rei e a experiência da plataforma é rainha – dizem canais de tv e plataformas de streaming. Do lado das Telco o entretenimento continua a ser chave, com o conteúdo no centro, começando a gravitar à volta do mesmo o conceito de conectividade da vida digital, onde cada operador de telecomunicações partilha o desejo de ser o “hub” por onde os seus clientes consomem conteúdo, controlam gadgets da casa, monitorizam apps de saúde, efetuam pagamentos, etc., tudo na sua app.

Na agregação está o ganho

Quem conseguir agregar, sairá vencedor. Mas a visão é turva e ninguém aposta tudo num lado da moeda. Há quem vaticine a vitória do lado das BigTech (Apple, Google, Amazon) e quem considere que cada país terá a sua realidade onde as Telco conseguirão tirar partido do contexto social e cultural onde estão a atuar e assim oferecendo soluções mais ajustadas e preferidas do que o “one-size-fits-all” das BigTech (para além da sua capacidade comercial local e da centralização da confiança também nos pagamentos). Para adensar o debate, adicionam-se players já existentes mas que reforçaram investimento e a sua posição, como a Samsung.

Ricardo Tomé

Diretor-Coordenador da Media Capital Digital