O voluntariado entrou cedo na minha vida, por volta dos 13 anos, altura em que não imaginava sequer que viria a ser jornalista e que aquela constante e inquietante vontade de fazer alguma coisa por alguém ou por algo viria a dar origem (mais de 20 anos depois) a um dos projetos mais desafiantes que realizei profissionalmente.

Desde essa altura e até aos 18 anos, os sábados ou domingos eram passados nas Casas de Saúde da Idanha ou do Telhal, em Sintra. Duas instituições onde viviam, muitas delas por longos períodos de tempo ou quase uma vida inteira, pessoas com problemas de saúde mental, com deficiências físicas ou intelectuais, com adições e muitos idosos que encontraram ali o último lar das suas vidas. 

Agora e com a necessária distância do tempo percebi que foi naqueles dois lugares que tirei as primeiras lições do voluntariado, ou melhor, da vida. Uma delas, a falsa convicção que tinha de que o voluntariado servia para marcar a diferença apenas no outro, quando na prática e no meu caso pessoal, foram todas aquelas pessoas que fizeram a verdadeira diferença na minha vida. E fizeram-no até hoje.

O Dia Internacional do Voluntariado é comemorado dentro de poucos dias, a 5 de dezembro e voltou a tropeçar, recentemente, na minha vida. Depois de ter prometido várias vezes a um “velho” amigo que o iria ajudar nas ações de limpeza de praias que ele realizava há vários anos com a “Brigada do Mar”, em maio de 2019 consegui finalmente arranjar tempo para aquilo que eu achava que seriam apenas uns dias como voluntária. O impacto com a realidade que encontrei não me permitiu deixar de lado o outro papel, o de jornalista, porque era impossível não contar aquela história.

Daqui saiu mais uma lição e um documentário, “Um Mar de Lixo”, sobre a quantidade chocante daquilo que despejamos no areal das nossas praias, e sobre a capacidade e resiliência daquelas dezenas de voluntários que dedicam dias de férias, fins de semana ou folgas, há vários anos, a limpar a costa portuguesa.

“Ao fim de todos estes anos, eu digo-te, é indiferente. O problema existe, quem quiser fazer faz e quem quiser esperar espera”. Foi a última frase da entrevista que fiz a um dos fundadores da “Brigada do Mar” depois de termos percorrido os 40 quilómetros entre Troia e Melides a apanhar lixo, enquanto eu aproveitava para recolher os pedaços daquela história que precisava mesmo de contar.

Juntar aquelas toneladas de lixo mudou a forma como trato cada objeto no meu dia-a-dia e fizeram-me eliminar muitos comportamentos que tinha e que estavam profundamente errados. Foi, novamente, o voluntariado a fazer a diferença em mim.