Num dos primeiros debates das legislativas de janeiro que comentei na CNN Portugal expliquei que um debate é um duelo. Ou se mata ou se morre. E para ganhar é preciso trabalhar, treinar, saber construir a mensagem que se quer passar, conhecer as vulnerabilidades do adversário, estudar o terreno que se pisa.

Ora, um comentador televisivo tem de ter os mesmos cuidados e a mesma preparação. Ali o duelo é connosco próprios, para não falharmos. Não se entra num estúdio televisivo à toa, nem com a descontração de uma conversa de café. Há uma enorme responsabilidade porque é a credibilidade de duas entidades que está em jogo: a nossa, a do comentador, e a do canal que aposta em nós. Não é, nem pode ser, brincadeira para amadores, pois pode-se enganar uma plateia algumas vezes, mas mais cedo ou mais tarde o público vai compreender quando está  perante um embusteiro sem conhecimento para comentar determinado tema e a breve trecho cairá num penhasco de vergonha.

Para se ser um bom comentador é preciso currículo profissional, trabalhar e estudar diariamente os factos em análise, ter experiência e conhecimento, bem como cultura e mundividência, algo que faço questão de acrescentar sempre ao meu comentário porque enriquece as palavras que proferimos.

E por último, porém é o mais importante, não se constrói um bom comentário sem a maior preocupação de todas: falar para as pessoas. Não é para bolhas de redes sociais nem para os amiguinhos do Twitter (muito menos nos devemos deixar condicionar por eles), comunicar bem é conseguir chegar às pessoas, porque falamos para um universo de centenas de milhares de portugueses de segmentos variados e de classes distintas. Para lhes tocar na razão e no coração a eles temos de chegar com verdade, sendo independentes e não tomando partidos, pois é isso que a enorme maioria quer quando vê e ouve um comentador.

E, por isso, quando estou na CNN Portugal recordo-me sempre de um diálogo do escritor brasileiro Marçal Aquino que deu origem a um filme do Beto Brandt chamado “Os Matadores”: “não se preocupe em matar bonito não, tem é de matar”. E para sairmos com vida do tal duelo connosco próprios, como já expliquei, temos de ter a consciência que ao terminar um comentário dissemos tudo o que tínhamos trabalhado e preparado com antecedência. Porque os melhores improvisos são os cuidadosamente preparados.