O que sente uma pessoa quando vê repetidamente imagens de guerra? Quando é confrontada com imagens de destruição, tiros, explosões, feridos ou mortos? O que sente uma pessoa quando percebe as consequências dessa guerra, a fuga dos civis, um país destruído? O stress causado por certas imagens serviu de inspiração para obras primas do cinema, como a “Laranja Mecânica” (Stanley Kubrick, 1971), mas nos dias de hoje volta à discussão pública devido ao conflito na Ucrânia, não só pelo impacto nas crianças, mas também em todos nós.

A introdução em jeito de reflexão serve para falar do jornalismo e, acima de tudo, dos jornalistas. Não do repórter de guerra muitas vezes transformado em estrela do momento, mas de todos aqueles que se entregam à profissão sem nada em troca, apenas com a missão de informar. Arriscam muitas vezes a sua vida, esticam os limites do bom senso para poderem ir onde outros não podem ou não conseguem ir. Também falo de quem tem de ver as piores imagens, uma e outra vez, reúne toda a informação e tem a destreza de produzir conteúdos que sintetizem constantemente a complexidade do mundo.

A resposta é o jornalismo, sempre. Mais ainda no mundo em que vivemos, com os desafios impostos pela desinformação, pela gratuitidade das redes sociais, pela necessidade de desconstruir a realidade e devolver aos espectadores/leitores/ouvintes a garantia de que existem fontes credíveis. Este é um esforço que interessa em primeiro lugar aos jornalistas, mas à sociedade como um todo.

Nenhum jornalista espera que lhe agradeçam pelo seu trabalho, por uma frase bem escrita, uma imagem bem tirada ou um momento bem contado. Mas atrevo-me a dizer que haverá poucos jornalistas que se sintam devidamente reconhecidos ou valorizados, apesar de serem profissionais altamente qualificados e que têm de cumprir elevadíssimos padrões éticos. Falo da cultura do mérito ou da falta dela, de como o jornalista muitas vezes se sente descartável, apesar de especial.

Posso assegurar que mesmo estando em situações limite, como no meio de uma guerra, a única missão é informar. Sim, missão.

Falei da minha profissão e de como ela é importante, sem qualquer desprimor para todas as demais. Falar de jornalismo é falar de liberdade, de democracia, de cidadania. Ir aos locais, informar na primeira pessoa, contar o mundo aos outros. Em todas as frentes. A resposta é o jornalismo, sempre.