Ontem Santos Silva, presidente da Assembleia da República, questionou a casa que representa a nação sobre ser ou não necessário rever a Constituição para que seja concreto e real o combate à desinformação. É uma pergunta pertinente, feita pela segunda figura do Estado, suscitando a reflexão em torno de um assunto particularmente relevante na atualidade.

Até 2022, a maioria das pessoas em economias maduras consumirá mais informação falsa do que informação verdadeira, de acordo com um estudo da Gartner. Além disso, o MIT estima que as notícias falsas viajam 6 vezes mais depressa do que as verdadeiras no Twitter. O facto e o tema devem mobilizar-nos a todos.

Sabemos que o mundo em que vivemos e, no nosso caso em particular, o mundo em que trabalhamos, se faz de imediatismo e rapidez, sendo por isso palco de erros não intencionais. Também sabemos que, apesar de estas características influenciarem o tipo de mensagem que passamos – e já dizia Marshall McLuhan que “o meio é a mensagem” -, isso não nos isenta do compromisso com o rigor e com a responsabilidade de informarmos cidadãos que, numa sociedade democrática, tomam decisões com base nos dados a que têm acesso, através da comunicação social.

A informação que fazemos no Grupo Media Capital, não sendo caso único a nível nacional e internacional a sofrer com este contexto, tem sido alvo de um especial escrutínio – sobretudo nas redes sociais. E se a intensidade desse foco nos impele a um ato de contrição, também nos merece estranheza o facto de o nível de rigor com que somos avaliados não balizar as tomadas de posição dos nossos críticos.

A recente partilha de um conteúdo manipulado e erradamente atribuído à CNN Portugal – refiro, especificamente, a acusação de que a CNN Portugal teria noticiado que um comandante russo acordou morto na Ucrânia - é uma forma de não rigor e de falta de responsabilidade que concretiza o mesmo pecado de que somos acusados. As imagens truncadas e amplamente replicadas, de forma acrítica e com supremo gozo nas redes sociais, são um triste sinal do estado a que chegámos.

A responsabilidade que cada um de nós assume ao criticar incorreções e falsidades não é diferente daquela que devemos ter, enquanto cidadãos, quando usamos os nossos canais pessoais para replicar conteúdos com potencial para criar uma sociedade mais informada ou, ao invés disso, criar uma sociedade que é manipulada em função de interesses que, muitas vezes, alimentamos, com mais ou menos consciência do facto.

Esta circunstância, que deve mobilizar-nos, enquanto setor, a encontrar mecanismos de melhoria continua e formas de validação sistemática, também nos obriga a um exercício de humildade para assumirmos os nossos erros e para agirmos de acordo com o que defendemos.

Cada um de nós, ao usar as suas redes sociais, deve ter a consciência que é um canal de difusão de conteúdos e que eles, corretos ou incorretos, manipulados ou legítimos, influenciam a formação de opinião das nossas pequenas comunidades e da nossa grande comunidade, que é Portugal.