A indefinição provocada pela insegurança advinda da pandemia ao nível pessoal e profissional, com os mercados agitados de um lado positivamente (veja-se a valorização bolsista de algumas empresas tecnológicas e também a explosão da faturação no eCommerce) e do outro tragicamente (com os despedimentos e layoffs a título de exemplo), pode reforçar-se a ideia de termos modelos, casos, exemplos que de alguma forma nos digam qual o caminho por entre este fumo. Mas se já em cenários pré-covid tais modelos se rodeiam de detalhes que muitas vezes os tornam específicos e pouco repetíveis, então atualmente isso acentua-se ainda mais. Isto aguça, em momentos de sobrevivência, a necessidade de cada projeto se dotar de uma visão clara e própria, traçando o seu caminho e perseguindo-o, mais que afincadamente, absoluta e obstinadamente.

Talento ou Trabalho?

Acredito mais no trabalho árduo que no talento nato. Ao segundo, sem trabalho, nada de bom acontece (salvo nos filmes). Ao primeiro, tudo de bom pode acontecer. O que responde, também, ao lead deste texto.

A cópia a muitos modelos, frameworks, paradigmas e casos dados como a seguir, qual farol pelo meio da penumbra, só raramente sucedem nas cópias igual sucesso. Não fosse assim e havia mais empresas a conseguir fazer iPhones, passo o exemplo alegórico. Deus está nos detalhes e a implementação será o terreno onde os milagres se fazem acontecer. Mais que ideias, fazê-las acontecer. E acontecer bem (de novo) dá muito trabalho.

Temos no portefólio da Media Capital Digital 7 marcas e projetos editoriais: Autoportal, IOL, Maisfutebol, SELFIE, TVI, TVI24, e TVI Player por ordem alfabética. E num ano atípico alcançámos as melhores audiências e resultado operacional de sempre.

Minúcias

O lançamento das votações e da interatividade nos nossos realities tem já algum tempo, feito com parceiros fortes e que não viu em 2020 a sua génese. Contudo, o aperfeiçoamento dos processos de captação e fidelização levaram tempo e um somatório de pormenores. Da mesma forma, quando em 2020 nos lançámos na aventura de um produto de subscrição fora de Portugal – TVI Player Internacional – esboçámos todos os pontos que teríamos de endereçar pela frente. Mas mais outro dobro apareceu (lançámos em plena pandemia). Foram sendo resolvidos pelas áreas técnica, editorial, business development, e passo a passo a forte adesão do público foi possível, junto com uma boa oferta do lado da TVI de programas fortes.

Todas as semanas (de forma formal) e todos os dias (aqui, de forma realista, devo dizer mais todas as horas ou minutos) as equipas editoriais e técnica olham as audiências. Temos ido além do analytics e, graças ao profissionalismo dos coordenadores e empenho de equipas de produção de conteúdos e dos jornalistas, todos vão dominando as ferramentas de análise e alertando para sinais de perigo, problemas, ou também luzes a explorar e por onde crescer.

É um espírito aguerrido que só posso aqui agradecer a todos quanto o sentem, vestem e defendem todos os dias. E só isso permite que não se deixem os detalhes ao acaso. Das imagens bem tratadas em pormenor, às taxas de viewability que a equipa comercial defende acerrimamente (e bem), ao ‘push’ na qualidade dos vídeos criados e dos textos publicados. No final do dia, vemos sempre o mesmo – cada ação de todos em todas as áreas, por mais pequena, vai somando. E a soma de tantos pontos trabalhados é o que faz com que o nosso caminho seja o nosso, irrepetível e dificilmente copiável. Não é melhor ou pior que a concorrência. E assim deve ser. Nosso. Trilhado pela nossa cabeça, em equipa, com a gestão da Media Capital em articulação com as áreas de conteúdos de programas e informação, comercial, marketing, comunicação, RH, etc.

Em anos mais ou menos difíceis os bons resultados conjugam-se de vários fatores, mas duvido que no nosso ou de qualquer outro caso algum se rodeie de algo que não invista no trabalho árduo e com atenção aos detalhes.

2021

Pediram-me que endereçasse também nesta estreia num espaço de comunicação tão desejado no grupo, agora lançado sob o nome de “MCNews”, alguns pontos para o futuro na nossa área digital.

Naturalmente, o trabalho manter-se-á diariamente a desafiar-nos. Esse é um caminho que já o sabemos. Em digital sobretudo as alterações são permanentes (Algoritmos, RGPD, Apps...) pelo que a vigília e endereçamento a tempo são ‘core’. Esse espírito nunca o poderemos perder - antecipar, resolver e superar.

Mas ao mundo VUCA e em transformação constante, que tem colocado os meios de comunicação locais expostos e mais frágeis (basta ver nos últimos anos o sucedido na imprensa) adicionou-se agora um aperto inesperado. A nova lei da televisão (rebatizada) bem como a Diretiva de Serviços a Pedido, ambas a entrar em vigor a 17 de fevereiro próximo, colocam inusitada pressão sobre os meios de comunicação social locais, quer no linear quer no on-demand, quando seria de esperar um apoio e defesa diretos e concretos - sobretudo após um ano onde as TVs nacionais, bem como as rádios e imprensa e digital foram preponderantes na defesa da segurança, do esclarecimento e do apoio nos três eixos que sempre a todos nos guiam nos Media: informar, educar e entreter. Caso não haja um sensato ajuste, os resultados podem ser previsivelmente prejudiciais, mais do que aos Media, à nossa sociedade democrática.

No que ao Digital do grupo nos diz respeito, mantemos os pilares que nos têm guiado. Em primeiro – Conteúdo: no desenvolvimento da transposição dos programas Tv e Rádio para digital, na produção de conteúdo original para on-demand, na criação de Diretos imersivos e esclarecedores, estendendo as marcas dos nossos programas para além do on-air. Quer na TVI e TVI24, quer na SELFIE, no MaisFutebol ou no AutoPortal.

Em segundo – Participação: nenhum passo, seja ao nível dos conteúdos seja ao nível da tecnologia, é dado sem considerar a inclusão dos nossos públicos. Nos websites, OTT, redes sociais, ações de branded content. Como assegurar o máximo interesse, participação, interação? Como alcançar o máximo de audiência? E o seu máximo de engagement? E de adesão aos serviços? O conhecimento e entendimento de quem nos segue torna cada vez mais crítico o debate interno entre áreas de conteúdos, analytics, técnicas e comerciais. A visão do conjunto tem-nos servido bem até aqui.

Em terceiro – Contexto: quando há 10 anos atrás falávamos de mobile era algo distante que sentíamos que “aí vinha”. As redes sociais, com a recente liderança no Facebook ao destronar o Hi5 eram um tema pop e ainda pouco conhecido (a 1.ª Pós-Graduação nesta área em Portugal foi apenas lançada em 2009). A nossa presença em digital e a produção dos nossos conteúdos e desenvolvimento de serviços assentava por isso maioritariamente em web, para o pc/laptop. Hoje, a miríade de canais é o novo normal. Aos já existentes, de onde o email não desapareceu, juntámos a preponderância de mais redes sociais, o domínio do mobile, das Apps, dos IA’s e dos AMP’s e de colunas de som e... Se outrora a linha orientadora era “temos de estar lá” hoje felizmente já percebemos que essa loucura de estar em todo o lado só porque sim traz apenas dois resultados: mais custos e confusão. De nada vale uma presença omnicanal desordenada.

Um agradecimento sentido

Em fecho, e como profissional desta área, creio ser importante uma palavra a todos os profissionais dos media que, com brio, sentido de responsabilidade profissional e cívica, muitos em layoff ou em circunstâncias de negócio débeis, nunca deixaram de arregaçar as mangas e cumprir as suas funções, em muitas semanas para além dos seus limites, substituindo por vezes 2 e 3 pessoas e esticando turnos de 8h para 12h e mesmo 16h por dias seguidos.

Numa indústria como a nossa, criativa, feita do talento de todos estes bons profissionais, desejo mais do que um fraterno e digital abraço, um voto de apreço e agradecimento sentido, como colega e como cidadão. Aos da nossa equipa em especial, pela proximidade com que juntos enfrentámos um ano duro e o superámos. A todos, pelo contributo em prol de uma realidade que todos os dias é preciso contar com verdade, explicar com clarividência, e também distrair por fim, nessa que é também a razão de sermos, na capacidade de entre as tormentas e a dor de alguns dias nunca deixar de conseguir fazer sonhar.

Ricardo Tomé 

Diretor Coordenador- Media Capital Digital