Membro do júri de “Uma Canção Para Ti”, fala dos desafios de avaliar crianças que já demonstram grandes capacidades técnicas.

Rui Massena é um dos quatro jurados do programa “Uma Canção Para Ti” e, neste regresso à televisão, o maestro avalia, todas as semanas, a prestação dos pequenos grandes cantores. Em entrevista à MC News, Rui Massena admite que avaliar crianças é sempre um desafio.

Como recebeu o convite para ser membro do júri de “Uma Canção Para Ti"?

Confesso que foi uma surpresa, não estava à espera. E foi e tem sido uma agradável surpresa. Fazer parte do sonho destas crianças, e claro, poder contribuir de forma construtiva para a sua formação musical através desta experiência é algo que me deixa feliz. A música é isso mesmo, sempre uma surpresa e uma aprendizagem.

Esse papel de jurado e de avaliar crianças que têm sonhos para concretizar é desafiante?

Sem dúvida. Nem sempre é fácil encontrar o equilíbrio entre os ouvidos que eu tenho – treinados pela experiência da música que tenho resultado de décadas de carreira – e o contexto deste concurso. São crianças, são famílias a concretizar sonhos. Neste caso há toda uma gestão de expectativas que temos de fazer e, por vezes, esse é o nosso papel. Porque não podemos destruir os sonhos destas crianças que apenas querem cantar, ou fazer música, mas claro, também temos de ser fiéis à qualidade, porque só assim é que é o programa é justo para todos.

Tendo em conta que falamos de crianças, o vosso papel é também de guia, que permita levar estas crianças a cumprir os seus sonhos?

Sim, por um lado, temos de os avaliar, de lhes dizer o que fizeram e isso implica um tom crítico. Mas por outro lado temos de ter muito cuidado para que essa crítica não lhes destrua o sonho e não lhes faça ter medo de estar ali, em público.

Ou seja, há também algum cuidado com aquilo que se diz?

Sim, sem dúvida, porque precisamos de ter mais cuidado com a forma como dizemos as coisas. A forma aqui assume uma importância que noutros contextos não tem. Depois de uma atuação, quando se esteve em palco a dar o melhor, não é fácil expor perante a crítica. E não é fácil para ninguém, muito menos para as crianças.

Pelo facto de serem crianças, a avaliação, em termos técnicos, é diferente?

Não, nem pode ser. Há fatores que para mim, enquanto jurado, não são subjetivos. Eu distingo entre dois grupos de crianças. Aquelas que atingem o patamar básico da afinação, e isso é objetivo. Uma criança que afina todas as notas e que canta, tecnicamente, afinada. E isso para mim é básico, porque ninguém se imagina a ouvir um violino desafinado e a dizer que gosta da interpretação. Na voz é igual. E depois sim, podemos avaliar o timbre, a forma como se posiciona no palco, a atitude perante a música e o público. Mas isso já são questões mais pessoais e que envolvem o gosto de cada um. Mas sob o ponto de vista técnico e objetivo, existem as crianças que atingem o patamar de qualidade e aquelas que não atingem.

Já houve algum candidato que tenha surpreendido?

Eu diria que há alguns concorrentes que têm um nível de execução, ao vivo, numa plateia de quase um milhão de pessoas, que é muito apreciável. Depois da primeira gala eu fui ouvir o programa em casa e fiquei surpreendido com a capacidade que uma criança de 9/10 anos consegue ter para fazer uma interpretação em direto daquele nível. Isso sim é surpreendente, porque mesmo nós, músicos com muitos anos de estrada, estamos sempre a lutar para ter esse nível de perfeição.

Até agora, como está a ser experiência?

Houve uma coisa que para mim foi uma surpresa. Esta é uma televisão que se está a fazer de dentro para fora, como se se estivesse a filmar o que já está a acontecer. Há uma certa beleza nisso. As equipas não estão a fazer televisão só enquanto se filma. Sinto que há mais carinho interpessoal e isso torna a televisão mais verdadeira. Há aquele momento de espetáculo, que todos veem em casa, mas há muito mais, há uma televisão que é boa e isso agrada-me muito. Se para mim já era importante haver programas ligados à música em horário nobre, também é importante que todos sintam que as coisas começam nos bastidores e talvez seja por isso que me esteja a sentir tão bem neste programa, tão bem recebido e tão bem tratado.